domingo, 4 de abril de 2010

PROJETO TENDA DA CRUVIANA -2010





1 O MUNICÍPIO DE PEDRO II: ANTECEDENTES
Criado na década de 1850, o município piauiense de Pedro II, 195 Km da capital, Teresina, cujo nome é uma homenagem ao Imperador do Brasil, já se chamou Matões, Pequizeiro e Itamaraty, denominações por si mesmas reveladoras do que denominamos em outro lugar de pedrossegundidade .
O núcleo social do município que se constituiu, na verdade, um pouco antes de 1850, seguiu em suas feições gerais o modelo da grande maioria dos demais municípios piauienses, isto é, baseou-se em fazendas de gado (BRANDÃO, 1995).
Cronistas que se debruçaram sobre a problemática das origens pedrossegundenses, como Pereira (1988), dão conta de que haveria uma única via de formação do povo dessa região: a de origem lusitana. Versão que rebatemos veementemente também em outro lugar ao apontarmos que há, pelo menos, duas comunidades locais cuja presença indígena e negra foi fundamental para a formação do povo pedrossegundense em todos os recantos de sua identidade cultural. Identificam-se, pois, na formação do município, ao contrário do que quer fazer crer a historiografia oficial, elementos da cultura indígena e da cultura negra além, evidentemente, da presença de matriz eurocêntrica.
A favor de nossa argumentação acerca da importante contribuição indígena/negra para a formação da gente pedrossegundense, elencamos, por exemplo, a extração da gema de opala (dada a notoriedade que a mesma tem) como impossível de ter ocorrido como tal, não fosse a presença maciça do caboclo (pequeno garimpeiro) que passa cerca de até dez horas diárias no interior de buracos enormes (os garimpos de opala), muitas vezes pagando com a própria vida, vem, há seis décadas construindo boa parte da riqueza pedrossegundense, a despeito de sua (dele pequeno garimpeiro) exígua participação na lucratividade e acentuada vitimização de um processo histórico ao qual chamamos de invisibilidade social .
Algumas alcunhas do município são: terra da rede, terra da opala e Suiça Piauinense. Embora na atualidade a mais conhecida delas, sem dúvida, seja “terra da opala” (em nome da qual foi erguido um portal), a que se refere ao clima (na verdade à temperatura amena), ou seja, “suiça piauiense”, é uma das mais antigas e carismáticas, tendo sido mesmo a razão pela qual um contingente de turistas vem visitando o município há décadas. Ressaltemos que inúmeras autoridades estaduais costumam passar pequenas temporadas na “aprazível Pedro II”, como relatam em suas entrevistas.
As baixas temperaturas, sobretudo em uma determinada época do ano (de março a agosto), remetem-nos ao fenômeno da cruviana. Como sabemos, cruviana é o nome da onda de frio que geralmente acomete regiões serranas nas primeiras horas da madrugada. Criaram-se, inclusive, lendas nacionalmente conhecidas (a cruviana ocorrem em diversas regiões do país) a respeito desse fenômeno, que é sabidamente recorrente no município de Pedro II.
1.1 O Festival de Inverno
No entanto, outro fenômeno, esse de natureza social, vem ocorrendo há sete anos na Terra da Opala: O Festival de Inverno de Pedro II, tido como o maior evento turístico do Piauí, quando, então, durante quatros dias de junho, a população da cidade de Pedro II decuplica e a media televisiva do estado instala seus aparatos tecnológicos para inserções ao vivo e/ou pré-gravadas que inundam todos os telejornais da capital.
Não é nosso propósito tecer detalhes sobre o festival, pois estamos preparando um estudo que possivelmente será publicado quando do lançamento da décima edição do mesmo. Caberia aqui, entretanto somente, aventar o excelente espaço promocional aberto pelo Festival, momento impar para a exposição de marcas e de ideias.
O fato de o Festival ocorrer em um município interiorano (rural), apenas evidencia o fato de que é preciso reconceituarmos esse termo. Em um breve, porém elucidativo texto intitulado “Sobre o rural e o desenvolvimento rural na contemporaneidade” Dione Morais, professora da UFPI ressalta a necessidade de corrigirmos “o vício de raciocínio do fatalismo demográfico, econômico, político e cultural presente na relação da sociedade brasileira e, especialmente, da piauiense com o seu meio rural” (MORAES at all, 2008). Mais adiante a autora, recorrendo a Veiga (2001) aponta para o fato de que 26% (vinte e seis por cento), ou seja, 76 (setenta e seis) do total de municípios piauienses podem ser considerados como “atraentes”, isto é, apresentam crescimento acima da média piauiense. O município de Pedro II, enquanto município rural, pertence a essa categoria e esse fato por si só é um fator agregador de valor, sem nos esquecermos de que

uma política de desenvolvimento rural engloba ações do Estado em atividades econômicas, sociais, culturais e ambientais, intrinsecamente relacionadas e, por isso mesmo, implica em uma intervenção ampla e complexa. De fato, trata-se de gestão de instrumentos de políticas agrícolas e não-agrícolas uma vez que, como já dito acima e como a pesquisa já vem demonstrando, no caso do Piauí, o espaço rural não se confunde com a atividade agrícola, indo muito além desta, incorporando um conjunto de atividades não agrícolas de serviços e outros negócios, numa dinâmica que, em muitas situações, passam a comandar o processo de desenvolvimento local e estão, quase sempre, relacionadas com as atividades agrícolas, configurando verdadeiras cadeias produtivas.” (MORAES ET AL, 2008, p.4).


Essa visão um tanto quanto otimista de uma realidade que se apresenta pelo menos em algumas de suas manifestações, não ofuscar, evidentemente, problemas crônicos que ainda assolam o município, como ademais a maioria dos municípios do país. Contudo, o Festival de Inverno insere-se perfeitamente na análise de Moraes (2008) sobre a mudança de paradigma rural.
Há, corroborando o que escreve a autora supracitada, uma face do Festival de Inverno que não pode ser mensurada algebricamente: seu aspecto simbólico, tão ou mais significativo, ao fim das contas, do que as meras cifras fimanceiras. Tal dimensão, a simbólica, geralmente não costuma ser citada em relatórios pró-forma, e passa, muitas vezes, ignorada, o que é um erro de estratégia.
A dimensão simbólica (PIERCE (1972); BOURDIEU (1998)) é a verdadeira dimensão das coisas para o ser humano, ele mesmo signo entre signos, no dizer de Pierce (1972). Não levar essa dimensão em conta, de forma consciente e estudada, quando participamos de eventos como o Festival de Inverno trata-se de dissintonia com o presente histórico. E é exatamente essa dimensão simbólica do Festival que ainda não foi devidamente tratada e compreendida por aqueles que, efetivamente, querem fazer-se notar (por terem muito o que mostrar) e, assim, contribuir de forma responsável e lúdica com a cultural local e, por extensão, piauiense.
Como alguém que participou da equipe idealizadora do Festival, nas primeiras reuniões diretivas, vimos, ao longo dos últimos sete anos, questionando o fato de que o evento ainda não evidencia (concreta e simbolicamente) o município de Pedro II e sua gente como protagonistas . É, pois, nessa “fresta de aparente ausência identitária” que vimos pensando a “Tenda da Cruviana”. Proposta que passaremos a detalhar doravante.

2 OBJETIVOS
2.1 Geral: Divulgar a rica diversidade da cultura pedrossegundense/piauiense durante a realização do Festival de Inverno de Pedro II - 2010, a partir dos conceitos de identidade cultural e protagonismo cultural.
2.2 Específicos
2.2.1 Realizar exposições de artes plásticas, saraus lítero-musicais, exibição de vídeos culturais no espaço “Tenda da Cruviana”, localizado na praça de eventos, durante a realização do Festival-2010;
2.2.2 Divulgar na mídia local/estadual (internet, inclusive) manifestações culturais pedrossegundenses/piauienses, assim como o próprio espaço “Tenda da Cruviana”;
2.2.3 Lançar livros de autores pedrossegundenses/piauienses;
2.2.4 Fomentar o conceito de marketing inteligente com a publicização das marcas do(s) apoiadore(s) do espaço “Tenda da Cruviana”.
2.2.5 Oferecer ao público a possibilidade de manter contato com a diversidade da cena cultural pedrossegundense/piauiense através de palestras, workshops, mesas redondas com pesquisadores, estudiosos e artistas;

3 JUSTIFICATIVA
O estado do Piauí tem sido, ao longo do tempo, relegado a um papel secundário dentro do contexto nordestino. Duas razões bastariam para por essa situação humilhante de ponta cabeça. A primeira, o fato de o Piauí possuir as inscrições rupestres mais antigas das Américas e que põem por terra toda uma teoria vigente de colonização do continente americano. A outra, o fato de haver sido o primeiro estado a lutar pela independência nacional. Entretanto, nem o primeiro fato é ainda de conhecimento geral, nem o segundo consta nos livros de História.
Uma revista de circulação nacional, há poucos anos, trouxe um encarte sobre turismo na costa brasileira. Nosso litoral foi eloquentemente ignorado. Dois livros de geografia do ensino fundamental (!!!!) trouxeram o mapa do Brasil sem o estado do Piauí. O Piauí só está na mídia quando há catástrofe natural, apesar dos esforços que veem sendo feitos para mudar essa imagem nos últimos anos.
No entanto sempre houve piauienses inseridos no contexto nacional. Reis Veloso, Petrônio Portela, por exemplo. No campo artístico, nos perguntamos o que seria do Tropicalismo sem a figura de Torquato Neto? Mas pouco se fala em seu nome e na importância dentro do referido movimento cultural. Poderíamos elencar um sem-número de (des)casos para com a cultura e a gente piauienses.
Ao invés disso, queremos ser propositivos. E essa propositividade encarna-se e ganha corpo no que vimos chamando ao longo do tempo de “Projeto Cruviana”, cuja face visível é a “Tenda da Cruviana”. A tenda instalada não mais apenas na ‘feira concreta’, mas também na ‘rede de informação’, no ‘tecido cultural’ dos mass media como uma referência identitária.
Compreendemos que a palavra “tenda” carrega, semanticamente, a um só tempo a noção de “novidade”, “mostrabilidade”, como também de “moradia errática”. Queremos dizer com isso que a tenda comporta o conceito de não-lugar (Augê, ) no sentido de ser um espaço da transitividade. Ao mesmo tempo, porém, a tenda lembra a moradia, a casa, e, por esse ângulo é o espaço da estabilidade, da ação sedentária, por assim dizer.
Em termos nordestinos, nada melhor do que a feira para exemplificar o conceito de não-lugar, com a ressalva de que laços emocionais aí são tecidos em meio à efusividade da cultura popular (na figura do camelô, do artesão, do vendedor de um modo geral, do tocador de sanfona, do repentista). Em um só lugar, a feira, encontram-se riqueza e diversidade culturais em sua mais genuína forma: a tradição oral (CRUIKSHANK, 1996).
O espaço “Tenda da Cruviana”, pois, coloca-se como uma proposta inovadora que, a um só tempo, lançando mão de conceitos como sistema simbólico (BOURDIEU, 1988) e identidade social (POLLAK, 1992), procura inserir a memória e tradição (NORA, 1993) da cultura pedrossegundense/piauiense em um contexto que abre espaço para o diálogo com a contemporaneidade e a globalização (IANNI, 2003) onde habita o ser humano concreto, sujeito protagonista e caudatário do hoje.

4 A TENDA EM SI
Assim compreendido, o espaço físico se estenderá em uma tenda de 10m², de cor clara, que permitirá ser atrativa e visualizada instanteneamente pelos visitantes, em um local arrejado, preferencialmente uma das praças da cidade, ainda por escolher e solicitar autorização de uso à Prefeitura. Neste espaço físico, serão feitas exposições de trabalhos de ilustradores, desenhistas e artistas plásticos de Pedro II, além da instalação de um telão de 3m² para a exibição de documentários sobre o Piauí e especificamente sobre a cidade de Pedro II.
Haverá também cerca de 100 cadeiras para melhor conforto dos participantes para assistirem aos vídeos, documentários e palestras que serão realizadas durante o Festival. Além de uma estante para a exposição e venda de livros de autores/as que escreveram sobre a cidade de Pedro II, e também de outros/as autores/as piauienses: poetas, contistas, romancistas, pesquisadores e etc.
5 DA NECESSIDADE DE PARCERIAS
O Festival de Inverno de Pedro II tem o êxito de atrair mais de 10 MIL  visitantes à cidade de Pedro II durante o evento. São turistas advindos das mais variadas cidades do Piauí, Maranhão, Ceará, demais estados do nordeste brasileiro e de todo o Brasil. Houve, nos últimos anos a presença de TURISTAS INTERNACIONAIS. Os parceiros da Tenda da Curviana terão a oportunidade de, como contrapartida, serem visualizados pelo logotipo em folderes, banners, paineis e logomarca em camisetas. Divulgação verbal nos mais variados momentos da programação de forma inteligente e criativa, de maneira não abusiva e/ou saturada. E na abertura terá um momento de participação do representante do(s) patrocinador(es) para expressar a importância da empresa como apoiadora do evento.


BLOG DO GETIRANA: http://getirana.blogspot.com

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