CRU . VI . A . NA: corruptela de corrupiana ou currubiana. Fenômeno segundo o qual há queda de neblina frígida e vento. "Cruviana não se vê, se sente". "Pôr-do-Sol vermelho é sinal de que a noite vai ter cruviana". Cruviana é a deusa do vento, mulher do alvorecer. Chuvisco, garoa, vento frio acompanhado de chuva, frio intenso. Na cidade de Pedro II tem cruviana, sim senhor.
segunda-feira, 9 de março de 2009
ESTÉTICA DA CRUVIANA
O título acima não é em nada original. O poeta e compositor gaúcho Vitor Ramil já fez referências a uma certa "estética do frio", com a ressalva evidente e cristalina de que não se trata de restabelecer o velho paradigma entre cultura e clima. Eu, do meu lado, de comedor de farinha e carne de bode, de chupador de umbu-cajá e tomador de Serrana, de descansador de rede de linha, de bebedor da água do Piarapora, de apreciador das mulheres da Terra da Opala; eu, cá com meus botões e borbotões de espasmo e espanto, fazedor de promessa à Santa Mari'Alves, e de poemas às meninas da vida; eu tremedor de medo dos velhos coronéis, mas, acima de tudo, tudinho mesmo, acreditador da força e do poder que esse povo dito PEDROSSEGUNDENSE tem, lanço, aqui e agora, a ESTÉTICA DA CRUVIANA.
Dizer ESTÉTICA DA CRUVIANA significa dizermo-nos pedrossegundenses da gema, que é outra forma de dizer que estamos acostumados com essa frialdade do clima, mas não da alma desse povo hospitaleiro, acreditador das coisas lá do céu e, ao mesmo tempo, danado de vivenciador das coisas de cá de baixo, da beira do caldeirão aceso da vida, essa mesma vida vivida na pele mesmo da ferida instalada e estalada no pingo do mei'dia. Esse mesmo povo que poetiza o Pirapora e o Bananeira enquanto os entope de lixo até Deus do céu, Nosso Senhor dizer chega, filhos ingratos!!!. Esse mesmo povo que cospe do prato que lhe serviu de artefato para receber a comida que lhe desceu para o bucho e que depois de algum tempo virará merdamente outra coisa sendo sempre, contudo, a mesma e única coisa de sempre, sem nome, amém. Amem!
A CRUVIANA está instalada sob nossa pele-povo, interconectada ao sistema neural, ela entra pelos orifícios do corpo, pelos nossos gargumilhos, gurgumis, como havera de dizer essa gente toda atordoadinha pelas visagens de outrora do Tamboril, do Largo do Cruzeiro, das bandas do cabaré da Beleza, das bandas do Morro do Gritador, que assim seja. A estética da cruviana é outra forma, outra banda de compreendermos quem somos nós, os ditos pedrossegundenses vindos de não sei onde para lugar algum e que, por isso, inventamos de inventar que a tal cruviana nos pertence como a sede à água, como o fogo à chama.
Cruviana somos nós mesmos quando saímos de nossos corpos e revisitamo-nos de uma forma que não conseguimos expressar. Apenas sentir.
ERNÂNI GETIRANA, poeta. Pedro II, Piauí, Terra da opala e da CRUVIANA, janeiro de 2009. (Em uma noite de cruviana, bem entendido!)span>
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